Há 33 anos, os militares tomaram o poder em um golpe de Estado que mergulhou o país em um período de brutalidade e desespero. Depois da redemocratização da Argentina, o dia virou feriado para exorcizar o passado. Alguns dos meus amigos portenhos estão hoje pelas ruas em uma marcha que tem como slogan “nunca mais”.
Os anos de militarismo deixaram feridas profundas por aqui. Até hoje o exército é visto com maus olhos por parte da sociedade. A tal ponto que o Ford Falcon, um magnífico veículo produzido nos anos 70, é rejeitado por parte dos argentinos pela sua associação com o antigo regime. Boa parte dos desaparecidos durante a ditadura era vista pela última vez entrando em falcons verdes, conduzidos por agentes do serviço secreto.

Há alguns anos, o serviço militar deixou de ser obrigatório. Hoje em dia, setores da mídia defendem a volta da obrigatoriedade, acreditando que em contato com as armas os jovens estarão longe do “paco”, uma versão piorada do crack, droga que está arruinando parte da juventude que não tem um horizonte promissor.
São jovens estigmatizados por morarem em locais pobres, que não tem boa formação e não conseguem trabalhos dignos. São chamados de villeros (moradores de vilas) ou negros, independente da cor da pele. Chamam a atenção da sociedade apenas quando roubam ou matam alguém da classe média.
Por causa do aumento de vítimas entre os moradores de bairros nobre da capital, o debate sobre a instalação da pena de morte ganhou a mídia recentemente. Surgiu o lema “quem mata deve morrer”. O jornal Página 12, por sua vez, levantou a sua voz contra o que considera uma discussão enviesada. Afinal de contas, argumentou o jornal, essas pessoas não pediram pena de morte para os integrante do regime militar.

No Brasil, daqui a exatamente uma semana é o aniversário do golpe militar de 1964. Não é feriado. E o mais marcante que se pode dizer a respeito foi o uso da expressão “ditabranda em um editorial da Folha de S. Paulo”, ao se referir àquele período nefasto.